Improviso para dizer o cais...

15 de agosto de 2006

Empresto-te a mão
apenas uma delas
a mão de que não preciso
para escrever que não há rostos perfeitos
destinos escritos a fogo
na intensidade dos olhares
uma voz uma pronúncia
e o sangue que corre
por fora de nós
entrando nessa corrente universal
que aproxima e afasta os corpos
que se aguardam no cais
agora já posso desembarcar nos teus silêncios
tocar a imagem
segredar-te ao ouvido os versos
que tu seguramente completarás
como se sempre tivesses adivinhado
as saudades que esperavam
os lábios entreabertos
o sorriso suspenso
e o mais que não vejo
talvez essa íntima fracção
de uma vontade de regresso
que esvoaça imperceptivelmente dos olhos.